domingo, 28 de fevereiro de 2016

NO ESCURO DA NOITE

(Reto Imhof)


                                          
Os diferentes percebem a igualdade
no escuro da noite,
quando os sonhos os
abraçam sem distinção,
entregando-lhes a chave do universo

Seus olhos fechados
dispensam visões,
seus ouvidos adormecidos
não são,
por palavras de desconforto,
atingidos ...
 os corpos em descanso
ignoram qualquer comparação

Os diferentes são igualados
no escuro da noite,
que dispensa, para isso,
qualquer lei...
São irmanados no amor sincero
de quem lhes vela o sono.
Colocam flores  nas janelas
ainda que não possuam mãos,
sentem a melodia que lhes
veste a alma
ainda que lhes falte a audição,
e suas mentes, então abertas,
entregam-se ao voo da liberdade

Não há o que discutir
Não há porque sofrer
     Não há porque chorar ...
Tudo está distante no escuro da noite,
  no mundo dos sonhos,
      no encontro das almas...

E aquelas vozes, lá fora,
nubladas pela intolerância,
pela insensibilidade,
por uma insana maldade,
afastam-se do que lhes poderia
abrir os túneis dos labirintos
que encarceram seus pensamentos:
a luz ,
aquela que pousa no escuro da noite
para os chamados diferentes,
e os envolve
em um abraço de paz



                    Marilene





segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

QUE A AMPULHETA IGNORE O EFÊMERO!

(diego-dayer)



Que a brevidade se insinue
antes que todas as portas
sejam abertas

Que o sorriso se canse e os
dentes cerrados se mostrem
antes que se acostumem a
ele os meus lábios ansiosos

Que a espera se torne infrutífera
em um dos primeiros encontros,
gritando que a ausência
fará parte da relação

Que as velas não sejam acesas
e a fogueira não queime,
mostrando que as águas
são frias e não convidam
a um mergulho da alma

Que as chegadas não tragam
estrelas nem alimentem sonhos
e que as alvoradas signifiquem
partidas ansiadas...

O efêmero não pode se estabelecer,
há que mostrar a face atrás da face,
para não machucar
e trazer dor

............

Mas se nada disso acontecer,
que fique, que se acomode,
que se sinta em casa,
pois a contagem do tempo
perdeu seu significado.
O coração se abriu
e não há mais como esconder
o prazer de estar a dois,
sem temer o depois 

A semente do amor,
em silêncio plantada,
   já passou a exalar o perfume da flor



                          Marilene





segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

ENTRE RETAS E CURVAS

(Sylvie-Wagner)



Em cada curva uma dobra,
um rabisco,
um amassado
na roupa invisível
que cobre a alma.
Uma pergunta sem respostas
que pede mais passos,
uma titubeada
e o clamor por um abraço

Em cada reta uma pressa
a pressupor certezas,
um não olhar o céu
um não sentir a brisa ...
um corcel quase selvagem
em campo aberto,
no descuido de uma ilusória liberdade

É na curva, no tombo,
no medo,
que as flores se abrem,
os sorrisos desabrocham
e o perfume se aprende a colher,
sem correr

Há rapidez nas retas
propiciando distanciamento
das necessárias esperas
e provocando colheita
de um fruto ainda verde,
que traz o sabor
do líquido amargo
que da ansiedade escorre ...

O despertar mora nas esquinas,
onde aos olhos se apresentam
 dois espaços,
momentos reflexivos de silêncio,
e pontos das sábias decisões

O cômodo adormecer das retas
cria fascinantes trajetos
onde os horizontes 
 parecem atingíveis e sem imprevistos...
mas o íntimo descansa
sem perceber que,
 nos caminhos fáceis,
   existem as reticências ...


                Marilene







quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

SE ME PUDESSES LER !

(Jean Jacques Cazin )



                                           Se me pudesses ler,                                          
                                                  perceberias o perfume
                                                    da minha presença
     e a dança dos meus cuidados.
                                             Ouviria a música da minha paz
                                                 a atenuar os relâmpagos
                                                     da tua tempestade
                                               
 Se me pudesses ler,
verias as montanhas de afeto
que tenho no olhar.
  Sentirias,
 nas mãos que não tocas,
o movimento e a magia
que as tornam plenas
 para pintar telas 
na pele
do teu despertar

Se me pudesses ler,
entenderias as palavras escritas
nos meus gestos
e sussurradas
no meu silêncio...
Uma grafia embalada
por sentimentos
e alinhavada
 pela esperança

   Ah! Se me pudesses ler,
nova roupagem encontrarias
para vestir
    tua nudez de amor 

.....

Mas teus olhos estão vendados
 teu riso cansado
 teu êxtase enlutado
e teus sonhos apagados




               Marilene





terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

MELODIA DO SENTIR

(Alberto Pancorbo )



Água ...
No mar dos encantos
No corpo cansado, suado,
Nos lábios 
Que mostram sorrisos
No pranto
Que escorre emoção

Amor ...
Nos olhos molhados
No abraço apertado
Na magia do silêncio
Que é palavreado
Criado por dois

Água ...
Saudade nos olhos
Que se distanciam
Depois de um adeus,
Ainda que breve
Que se saiba leve
E que escreva canção
  
Amor ...
 Na ausência
Na espera
     Na lembrança ...
  Na presença
Que explode uma dança
    Em fartura de gestos ...
 Colheita de afetos

Água ... amor ...
Em gotas, em rios,
Lavando as entranhas
Brilhando carinhos
Brindando caminhos
Em taças floridas

Notas soltas

Completando a melodia
Do sentir



               Marilene